sábado, 3 de setembro de 2011

Dr. FERREIRA DE SOUSA

Dr. FERREIRA DE SOUSA
O Meu Professor de Francês


Confesso que fiquei entristecido ao tomar conhecimento através do jornal O Penafidelense da morte no dia 3 de Agosto de 2007, do meu professor de francês na Escola Industrial de Penafiel, Dr. Ferreira de Sousa, o homem que nos tratava por cavalheiros.
Outra coisa que me chamou a atenção, foi o seu currículo académico, embora todos que com ele aprendemos sabíamos da sua sabedoria e cultura, pois não é por acaso que o alcunhamos de “enciclopédia”. É que o Dr. Ferreira de Sousa falava de qualquer assunto com relativa facilidade e à vontade.
Já que falei neste assunto da enciclopédia, vou contar uma peripécia que se passou numa das suas aulas. Enquanto o Dr. Ferreira de Sousa escrevia algo no quadro preto de costas voltadas para os alunos, um colega da fila do fundo para o enervar, começou a dizer baixinho mas de maneira que ele ouvisse Enciclopédia… Enciclopédia… Terminada a escrita virou-se para a turma e com um ar meio de gozo meio a sério perguntou:
-Parece que está aí um cavalheiro a dizer que é parvo?!
Era com estas tiradas, em sentido contrário do que a malta previa, que ele desarmava todo o mundo.
Quando alguém se comportava menos bem durante a aula, uma regra que ele aplicava frequentemente, era a expulsão por dois minutos do cavalheiro prevaricador da sala. O certo e sabido é que esta pedagogia geralmente resultava, já que o aluno punido quando regressava à aula comportava-se de modo diferente até ao seu final.
Uma outra regra que ele também aplicava durante os testes que fazíamos durante o ano, era dar a resposta da primeira pergunta como que a servir de motor de arranque para começarmos a escrever, e quem se dedicava como ele à escrita, sabia muitíssimo bem que isto do iniciar é muita das vezes o despertar da inspiração.
Certo dia conversa puxa conversa, saiu-lhe em plena aula esta frase: Os barbeiros são todos uns charlatães! Como na turma havia um filho de um barbeiro cá da cidade, este respondeu-lhe de pronto: - E os advogados são todos uns aldrabões.
- Ó cavalheiro, você conhece todos os advogados para fazer essa afirmação? Ao que leva por resposta:
- E o senhor Doutor conhece todos os barbeiros?
Aí, ele apercebe-se que sem querer tinha insultado o pai do aluno e ambos viraram a página, seguindo a aula com outro assunto, terminando a mesma com ambos a sorrirem do episódio.
Politicamente sempre defendeu com convicção um Portugal do Minho a Timor, e por isso nunca se adaptou ao novo regime saído de Abril como muitos o fizeram.
Da última vez que o vi, foi na Casa da Cultura de Paredes, num sarau de poesia dado pelos poetas José Jorge Letria e José Fanha. Acontece, que o mesmo estava para iniciar às 18 horas, mas devido a um engano de percurso os declamadores avisaram que chegariam cerca de meia hora mais tarde. Para preencher este intervalo de tempo, a vereadora do pelouro da cultura da Câmara de Paredes, foi ao palco não só avisar o atraso, como apelou que se algum dos presentes quisesse dizer algum poema tinha o palco à disposição. O Dr. Ferreira de Sousa lá foi ler um poema de grande folgo fazendo a apologia do Império. Evidentemente que quando José Fanha e José Jorge Letria começaram a debitar poesia virada mais para a esquerda politicamente falando, o Dr. Ferreira de Sousa verificou que alguém se tinha enganado e sorrateiramente abandonou a sala.
Coerente com a sua consciência, partiu deste mundo para o reino dos justos.
Que a sua alma descansa em paz, porque mais dia, menos dia, a gente lá se encontra…Ó CAVALHEIRO.

Extraído do blogue "Penafiel Terra Nossa" de Fernando José de Oliveira

Dr. Ferreira de Sousa
com o 1.º ano da Secção Preparatória aos Institutos
Páscoa 1970

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