segunda-feira, 13 de junho de 2011

ENTREVISTA COM O DIRECTOR

ESCOLA INDUSTRIAL DE PENAFIEL
ENTREVISTA COM O DIRECTOR
Análise das notas do 2º período 
Abril de 1962
Acabou o segundo período escolar, decisivo quanto ao aproveitamento dos alunos dos estabelecimentos de ensino oficial. Na Escola Industrial de Penafiel, foram afixadas as pautas com as notas deste segundo período, a definir quais os alunos com impossibilidades de vencer o ano e, como tal a rotular o seu aproveitamento deficiente.
As notas trouxeram para muitos a certeza dum critério exacto de classificação – a que se não estava habituado – mas, parece que houve um abaixamento de nível nessas classificações, em relação ao período anterior.
Este e outros assuntos merecem uma troca de impressões com o Senhor Dr. Hernâni, como sempre simpatiquíssimo para connosco. Dessa troca de impressões nasceram algumas perguntas e respostas, de que damos conta aos nossos leitores.



De pé: Luisa, Isilda Barbosa, Irene, Mariita Araújo, Alzira, Dr. Rotes, Augusta Bravo, Dr.ª Amélia Rotes, Laura Gonçalves, Eugénia, Isabelinha, Arminda Aguiar, Lucinda, Margarida Pinto, Alexandra e Sofia.
Sentadas: Antonieta e Mariazinha.
  
- Teria havido, nas notas deste segundo período um abaixamento de nível?
Não se pode dizer tal, mas sim que houve um abaixamento das condições morais em que vivem os alunos. Nota-se que nas turmas femininas a média geral é mais elevada: é que enquanto estas são retidas tanto quanto possível na escola, os rapazes vão-se para jogar a pedra, para vadiagem de vária espécie, enquanto não vem a camioneta, vão para tabernas enquanto não há cantina. Por outro lado há o factor familiar os pais controlam a vida das raparigas, enquanto se desinteressam pela dos rapazes – e, o que é pior – sendo convocados para comparecerem na Escola, não se dignam comparecer.
Durante todo o 2º período, apenas 3 encarregados de educação vieram procurar saber algo de seus educandos. Mais e mais grave: são anotados os cadernos diários para que os encarregados de educação tomem conhecimento, são enviados cartões de aviso sobre as faltas, e … só um apareceu! A Escola não pode fazer tudo; é preciso que as famílias colaborem. A própria disciplina se recente: a quantidade de material deteriorado pelos alunos – não pelas alunas – é enorme (a falta de pessoal menor é em parte responsável), e, neste caminhar, as suspensões têm que aumentar. Mas veja-se: convoca-se o encarregado de educação uma e duas vezes para dar cumprimento à lei, e este não aparece.
Que fazer?
O que se está verificando obriga-nos a atitudes mais rígidas nos próximos exames de admissão, mormente no que diz respeito ao Português e à Matemática. De resto, nota-se a capacidade de apreensão dos alunos, um nível médio de inteligência razoável, mas sim também o desinteresse após as aulas. É caso gravíssimo; houve um encarregado de educação que resolveu castigar o filho não sei porque motivo, ou impedindo-o de vir às aulas ou escondendo-lhe os livros e os cadernos. É com colaboração desta que se pode construir?! Esperamos que muitos destes males se remedeiem no próximo ano escolar, apesar de poder acontecer que indivíduos ou instituições não oficiais teimem em desprestigiar a Escola. Temos uma missão múltipla a cumprir que nos foi confiada pelo Estado: preparar cidadãos úteis à Pátria, sem subterfúgios, sem adesões a mesquinhices de carácter local – aliás existem infelizmente em todos os meios mais ou menos pequenos.
- E, quanto a transportes? Haverá possibilidades de alargar a rede, de forma a servir os alunos?
Alguém do Ministério das Comunicações veio visitar-nos – e com muita satisfação o declaro: não só os problemas foram muito bem compreendidos, como foi aceite sem reservas a ligação com Lousada via Novelas; e a grande esperança, em via de solução, de uma outra carreira que trará à Escola centenas de alunos! Se interesses particulares não se opuseram à boa vontade das Autoridades da Nação, quase poderemos afirmar que esta nova carreira fará que a Escola, dentro de três ou quatro anos venha a ter mais de 600 alunos. Compreenderão o comércio, as forças vivas de Penafiel, o que representa isto?
- Como encara a Direcção da Escola a afluência de alunos prevista para o próximo ano lectivo?
Teremos de arranjar uma solução de emergência que depende de três boas-vontades: a do nosso ministério, fornecendo algumas salas desmontáveis, o da Misericórdia cedendo uns metros quadrados de terreno sem grande prejuízo para a vinha que o ocupa, e da Câmara, se esta conseguir meio de construir um pavilhão em tijolos aparelhados interiormente e com cobertura de zinco ou fibrocimento. De qualquer forma há que solucionar o problema, pois que as estimativas prevêem um acréscimo de algumas centenas de alunos!
Para muitos dos nossos leitores esta troca de impressões fica como que a servir de informação, quanto à maneira como a Direcção da Escola encara a «assistência familiar» aos seus alunos. É preciso completar a acção da Escola e esse complemento pertence aos Encarregados de Educação. Será desse esforço comum que valorizaremos o homem de amanhã.
In  jornal “Noticias de Penafiel” de 20 de Abril de 1962

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