quinta-feira, 11 de agosto de 2011

ESCOLA INDUSTRIAL E COMERCIAL DE PENAFIEL

NO BICENTENÁRIO DA CIDADE DE PENAFIEL

10 de Junho de 1970 - Desfile da Mocidade Portuguesa


DIA DA JUVENTUDE ACADÉMICA

Tal como havíamos noticiado, teve lugar nos passados dias 10 e 11 de Junho o “Dia da Juventude Académica de Penafiel” integrado nas comemorações do Bicentenário da Cidade.
A comissão coordenadora, embora com escasso tempo para elaborar o programa, tem procurado, não sem grandes sacrifícios e canseiras, interessar as gentes da nossa terra e promovendo algumas festas que têm sido do agrado da quase maioria.
E dizemos quase, na justa medida em que se torna humanamente impossível conseguir o agrado geral.
Mas, o que não restam dúvidas é que se tem trabalhado e os resultados verificaram-se nesta última festa.
O “Dia da Juventude Académica” foi um dia grande para Penafiel. Foi um dia que jamais será esquecido por todos quantos nele participaram e assistiram.
Canseiras e arrelias sem número devem ter sido o prato forte dos seus promotores daqueles que arcaram com a responsabilidade tais como o Vice-reitor do Liceu, o Director da Escola Industrial e do Ciclo Preparatório e respectivos professores e alunos, mas que finalmente se podem dar por satisfeitos porquanto todos os números apresentados nos dois dias, foram de molde a merecer os aplausos de quantos os presenciaram.

Monumento aos mortos da Grande Guerra


Dia de Portugal
«Dia da Juventude Académica de Penafiel»

Propositadamente escolhido o Dia de Portugal para o «Dia da Juventude Académica de Penafiel» começou, como não podia deixar de ser, com uma missa na Igreja Matriz por alma dos milicianos do concelho de Penafiel, mortos em defesa da Pátria.
Placa colocada pela Juventude Académica de Penafiel no monumento aos mortos da 1ª Grande Guerra

Seguidamente, no Monumento aos Mortos da Grande Guerra, foi descerrada uma lápide comemorativa onde se lê: 1770-1970 – Homenagem e gratidão da Juventude Académica de Penafiel aos irmãos mortos na defesa do solo Pátrio. 10 – Junho – 1970.
Assim ficará vincado para a posteridade o gesto nobre e patriótico da juventude numa data gloriosa da nossa terra ao recordar Aqueles que tombaram em defesa da Pátria, defendendo-a do inimigo traiçoeiro que por inveja e ganância nos ataca.
Ali estiveram presentes o senhor Presidente da Câmara, Dr. Manuel Alves Moreira, Vice-reitor do Liceu, Director da Escola Industrial, Professores e alunos.
O Ver. Padre Arnaldo Leite Teixeira, director do Ciclo Preparatório Paio Ramires, fez uma vibrante alocução incentivando os jovens ao exemplo que nos foi dado por todos quantos em defesa da Pátria tombaram mas que vivem perenemente na nossa memória.

Estádio Municipal palco de demonstrações de ginástica e danças rítmicas


FESTIVAL GIMNODESPORTIVO
«Mens sana in corpore sano»

Se a alma está sã, e estava naquele dia 10 de Junho de 1970, a verdade é que o corpo da nossa juventude também precisa de estar são e para isso nada melhor que a prática da ginástica.
Como não possuímos um Pavilhão Gimnodesportivo, de que já se vem sentindo a falta, o nosso magnífico Estádio Municipal serviu de palco para demonstrações de ginástica e danças rítmicas que causaram admiração a todos os presentes.
Justo é pois salientar a tarefa árdua tarefa que se adivinha dos seus professores D.Guiomar Valdoleiros e Alfredo Portela que nos proporcionaram números de tal sincronização colectiva que sem dúvida estarão na origem do seu muito amor e querer pelas disciplinas que ensinam.
Após o desfile e de em silêncio se ouvir o Hino Nacional o Director da Escola Industrial leu a seguinte alocução:
Duas palavras de exortação à juventude me são pedidas neste acto de glorificação ainda da nossa cidade. É com emoção que as pronuncio, porquanto o significado delas responde aos profundos anseios da minha alma de educador profissional. E sobretudo porque neste festival de exaltação do corpo humano a que vimos assistir, do corpo na sua expressão mais bela e vigorosa, qual seja a da fase da vida em que a força ascendente é promessa e generosidade – lá para as sombras do futuro, transporta a linha culminante, será egoísmo e decadência …, nesta demonstração de beleza física, de harmonia e destreza, importa lembrar-vos, jovens que me escutais, que, não obstante aquilo que deslumbra os olhos, ao corpo excede sempre a alma, na medida em que aquele se corrompe e desaparece na ruína final, e esta, reflexo divino, imagem de Deus, se funde na Eternidade; e que as actividades físicas só valem se dominadas por um pensamento transcendente, se inspiradas por valores que ultrapassam a matéria e o tempo, e coloquem o homem perante a permanência.
Assim, quero lembrar-vos, dilectos rapazes, uma realidade que raramente transparece em nossos pensamentos, para a qual nos chama a atenção um extraordinário poeta e pensador belga dos meus dias, Maeterlink: a de que o homem surge fisicamente como um dos seres mais desprotegidos da Criação. Na verdade, qualquer dos animais está armado de couraças ou disposições protectoras formidáveis, como a tartaruga e o ouriço, que os põem ao abrigo dos ataques dos mais fortes; outros têm armas ofensivas de terrível eficácia, como o touro e o rinoceronte, como a víbora e os demais ofídios, cujo veneno liquida o adversário; outros dispõem de uma força avassaladora, como o elefante e o leão; outros de uma velocidade que chega a subtraí-los à vista do inimigo, como a truta; outros ainda, daquela adaptação cromática ao ambiente respectivo, chamada mimetismo, de que beneficiam tanto o camaleão como o arminho. Já pensastes, meus jovens atletas, que enquanto os campeões olímpicos não saltarão a mais de uma altura dupla da sua própria estatura, um insecto desprezível atinge nos seus saltos, centos de vezes a dimensão do seu corpo exíguo? Por outro lado, que acontecerá à criatura humana, em comparação com uma formiga, no caso da queda de uma torre? E não assistiu a Humanidade até há pouco tempo, invejosa e impotente, ao voo das aves? E o primitivo humano ao curso aquático dos cisnes e das focas? Ora vede em contraste com tudo isto, o desamparo de uma criancinha, mesmo de meia dúzia de anos, se lhe faltarem as pais ou uma pessoa adulta. Certamente não resistiria ao abandono …
Dada a fragilidade confrangedora da nossa natureza, como foi que a Humanidade sobreviveu na sua penosa caminhada dos séculos e domina a Terra inteira em plena soberania, e a partir dos nossos dias vai conquistando o próprio Universo ilimitado? Quais as armas com que triunfou em combate tão duro e prolongado? Somente uma inteligência criadora, uma verticalidade que libertou os braços e as mãos, e a maravilhosa flexibilidade e disposição dos dedos, que possibilitaram a técnica. Estes os atributos singulares de que Deus, ao dar-nos uma alma imortal, magnanimamente nos dotou.
Como há-de então reagir a nossa sensibilidade, quando, nos apercebemos de uma tal situação de privilégio? Que nos diz pois a nossa consciência de homens? Que o espírito supera e comanda a matéria, que a vossa força física, que ampliais e apurais pela prática da ginástica e dos desportos, não é uma finalidade em si mesma, antes mero meio de servides a Deus, de servides a Pátria, de servides a Sociedade, a Família, de atingirdes os vossos próprios fins pessoais: a obtenção do conforto na vida de trabalho, pelo merecimento e a honestidade, a preparação esclarecida de um futuro transcendente para que fomos criados e ao qual seremos irremediavelmente chamados amanhã, a fim de vivermos a Vida definitiva, consoante a estruturarmos neste Mundo.
Assim, meus rapazes, de olhos voltados para esta realidade, adestrai o corpo, formai a alma, abri a inteligência ao conhecimento de quanto vos rodeia neste mundo em que estais, preparai-vos para a luta que vos espreita. Sois estudantes e sois penafidelenses, seja pelo nascimento, seja por adopção. A vossa cidade festeja agora, justamente orgulhosa, o seu bicentenário. É uma celebração honrosa, já que até capitais de distrito são cidades de mais recente data. Eis o que, precisamente, nos reúne aqui. Penafiel, mais que as suas praças, mais que o seu casario, sois vós e somos nós, que a povoamos e lhe damos vida. Sem a sua população, não seria uma cidade, seria um cemitério, uma ruína. Sabíeis isto?
Ora havia entre as cidades famosíssimas da Grécia antiga, uma urbe poderosa, Esparta.  Não tinha muralhas de boa pedra como as outras, mas era invencível. Disso se orgulhava. Porque diziam os Espartanos, as muralhas de Esparta eram os peitos dos seus soldados, assim vós sereis também as muralhas defensivas da vossa querida cidade, contra tantíssimos males que a ameaçam. Não propriamente ameaça de guerra, porém de uma invasão insidiosa de natureza moral. Pelo vosso trabalho, pela vossa honestidade, pelo cumprimento exacto de todos os deveres, defendereis e valorizareis Penafiel, o mesmo é dizer que defendereis a Pátria, de que Penafiel é parcela. Fazendo-o, agradais, a Deus, e não será inútil a vossa passagem sobre a Terra.

Sindicato dos Caixeiros onde se realizou a exposição de trabalhos


EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS
Colaborando com a Comissão do Bicentenário, o Sindicato dos Caixeiros (Secção de Penafiel) pôs à disposição o seu salão onde foi instalada uma exposição de trabalhos do Ciclo Preparatório e Escola Industrial.
Foram inúmeras as pessoas que assistiram à inauguração, feita pelo Sr. Presidente da Câmara, na qual usou da palavra o subdirector da Escola Industrial Escultor Júlio Margarido Carneiro Giraldes, numa exortação à juventude para continuar com tais manifestações de arte e cultura, tão do agrado das nossas gentes.
Com efeito, centenas de pessoas têm visitado a exposição manifestando interesse e curiosidade pelos trabalhos expostos.

Cine-Teatro S. Martinho onde se realizou o Sarau no Dia da Juventude Académica


FECHOU COM CHAVE DE OURO
A encerrar esta festa da juventude, a assinalar o Bicentenário da Cidade, foi levado à cena um espectáculo de variedades, no Cine-Teatro S. Martinho, gentilmente cedido para o efeito.
Casa repleta em horas seguidas de espectáculo agradável de ver-se encerrou este «Dia da Juventude Académica de Penafiel» com chave de ouro.
Todos estamos satisfeitos: público, actores, ensaiadores e organizadores podem e devem pedir para que festas destas se repitam.
Nesta sessão usaram da palavra os srs. Vice-reitor do Liceu, Director da Escola Industrial e profs. Albano Morais, da Comissão Coordenadora das Festas do Bicentenário, que agradeceu aos responsáveis pelo ensino na nossa terra, a valiosa colaboração emprestada.
A exposição esteve patente ao público durante o resto da semana.
In jornal “Notícias de Penafiel de 19 de Junho de 1970

In jornal "O Penafidelense" de 12 de Maio de 1970

In jornal "O Tempo" de 26 de Abril de 1970 


In jornal "O Penafidelense de 12 de Maio de 1970



NOITE DE POESIA E CONVÍVIO
Foi com entusiasmo que o público aplaudiu a recitação de algumas poesias de consagrados poetas de Penafiel antiga, que neste período se mostra ufana da sua idade já bem bonita e produtiva em glórias para todos nós.
Foi na 3.ª parte das comemorações do bicentenário que se deu lugar aos novos, e acrescente-se que os novos desempenharam bem o seu proveitoso trabalho. E foi a coroação do mesmo o programa apresentado por eles no passado dia 2 com a divulgação de obras de grande quilate dos poetas António Nobre com os poemas «Sombras» e 14º soneto do «Só»; José Júlio com «O que eu sou» e Hino de Penafiel»; Joaquim Araújo - «Na morte de Antero»; Lambert da Fonseca - «Oração» e «Ode ao Sol»; escultor Júlio C. Giraldes - «Menino da Rua» e «Amanhã»; Dr. Manuel P. Ferreira de Sousa - «Angústia» e «No azul do meu futuro»; António Madalena - «Nunca mais» e «O meu berço»; Dr. Manuel Joaquim Rodrigues - «Confidências aos destemidos» e «Intimação»; D. Helena Silva - «Ao mar» e «Encontro»; Rosa Moreira Barbosa - «Manhã de Inverno» e «Livro Cruel»; e Leal Moura - «Infelicidade» e «Estrela».
Foram estes poemas apresentados por jovens penafidelenses, estudantes e não estudantes, porque o amor pelas artes não escolhe profissões mas sim vocações. São eles Rosa Moreira Barbosa, Maria José Neto, Maria Manuela Meireles, Gaspar, Miguel, Álvaro e Carlos. Apresentação dos cenários com elevado requinte. Boas interpretações.
No final da 1ª parte houve uma alocução dos jovens componentes dum ilustre homem de Penafiel, o prof. Albano Morais, adjunto da Direcção Escolar do Porto. A chave d’ouro do programa foi um indiscutivelmente mas discutido colóquio presidido pelo distinto professor e advogado orientador desta secção cultural, Dr. Manuel Pinto Ferreira de Sousa, D. Helena Silva e António Madalena.
Foram, como era de esperar, versados vários aspectos da poesia, não só Penafidelense como Europeia, chegando por fim a transcender estes limites focando a poesia Oriental. De notar neste curioso debate não muito visto em nossa «casa» (Penafiel) as intervenções magníficas da sr.ª Dr.ª D. Manuela Isabel Queirós, profs. Albano Morais e Gonzaga e ainda do sr. eng.º Amaro Correia. No final do Colóquio, que se prolongou até de madrugada, mais duas poesias foram declamadas pelo prof. José Luís, uma de Gonçalves Crespo e a segunda de Miguel Torga.
Depois de recitadas perguntava-se o nome dos autores, oferecendo-se como prémio um ramo de flores.
Durante todo o espectáculo, o ambiente foi agradável aumentando à medida que se aproximava do fim.
António Augusto de Jesus Sousa
In jornal “O Tempo” de 24 de Maio de 1970

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