quinta-feira, 14 de julho de 2011

1º SARAU DE FINALISTAS

1º SARAU DE FINALISTAS
DA ESCOLA INDUSTRIAL DE PENAFIEL
24 DE MAIO DE 1966



Os primeiros finalistas da Escola Industrial de Penafiel, foram os do Curso de Formação Electromecânico, e no dia 24 de Maio de 1966, levaram a efeito no Cine-Teatro S. Martinho, o seu Sarau de Finalistas.
Apesar de neste ano de 1966, não haver finalistas femininas, já que o seu Curso de Formação Feminina tinha a duração de mais um ano, as alunas do 5º ano também colaboraram no sarau.
 Num momento dedicado ao teatro, em “A Anunciação” do pai do teatro português Gil Vicente, e na recitação coral da poesia “A Senhora de Brabante” de Gomes Leal, como se pode ler no programa.  






Ao abrir e ao fechar o livrete do programa do Sarau, deparamos com dois poemas do Mestre José Luís, respectivamente “Cântico de Agradecimento” e “Despedida”. Durante a sua permanência em Penafiel, encontra-se vários poemas de sua autoria, espalhados na imprensa local, que mostram bem a sua veia poética.




Cântico de Agradecimento

                             Não canteis alto, nem cedo demais
                             O cântico da vida e do amor,
                             Evitai que voe o pássaro sem penas,
                             Não apanheis antes do tempo a flor
                             Que há-de ser fruto e grão
                             E não deixeis que o sol creste
                             As espigas verdes que hão-de ser pão! ...

                             As asas abrir-se-ão num voo a um fim,
                             Será rio e mar a nascente.
                             As pétalas hão-de cair da flor,
                             As folhas deste livro serão eternamente
                             Farrapos de saudade que caem em poesia,
                             Como do céu cairá a última estrela
                             Antes de amanhecer um novo dia! …

                             Erguei-vos, então, abri os braços à volta
                             E cantai! Que a vossa alma entoe finalmente
                             O cântico triunfal da vida e do amor
                             E um cântico de agradecimento ardente
                             À Pátria, à terra, ao mar e aos céus,
                             À vossa Escola, aos Professores, aos Mestres,
                             A vossos pais, a vós próprios e a Deus.


                                              DESPEDIDA
                                        Chegou o fim? ...  Não!?...
                                        Tudo vai agora começar! ...
                                        Finda uma etapa da vida,
                                        Outra começa a rolar…
                                        E nos dias que vêm a seguir,
                                        As saudades do tempo de estudante
                                        Hão-de fazer-vos chorar e sorrir

                                        Caminhai sempre em frente,
                                        Com amor e direcção definida.
                                        Serenamente e sem vacilar
                                        Esboçai primeiro vossa vida;
                                        Depois, a passo e passo,
                                        Aplanai a vossa própria estrada
                                        E forjai ideais tão fortes como aço

                                        Ide… A vida espera-vos lá longe!...
                                        É o horizonte agora mais diferente,
                                        Fazei do curso a vossa eterna canção
                                        Como a Casa do Sol Nascente,
                                        Cantai-a na inquieta e promissora viagem
                                        E vereis que há ainda muito a aprender
                                        Nesta minha tosca e humilde mensagem!...




Por ordem alfabética, tal como se encontram no seu livro de finalistas do Curso de Formação Electromecânico 1961 – 1966, aqui vão os seus nomes:
Abílio Leite dos Santos
Acúrcio do Nascimento Morgado de Sousa
Agostinho Marques Ferreira Bessa
Alexandre Monteiro de Queirós
Álvaro José Pinto Moreira Fernandes
António Prata de Melo
António da Silva Monteiro
Augusto Nunes Machado Pinto
Carlos Alberto da Cunha Barbosa de Moura
Carlos Arlindo Ruão Dias de Castro
Carlos Graciano Pacheco Dias
Carlos Manuel da Silva Meireles
Fausto Alberto Pereira Quintas
Fernando José de Oliveira
Fernando da Silva Pereira
Francisco Joaquim de Almeida Aguiar
Francisco Ferreira
Joaquim António Borges Ribas da Cunha
Joaquim Gustavo de Jesus Rocha
Joaquim dos Santos
José Alberto Ferreira Barbosa de Moura
José Carvalho
José Luís Magalhães Pinto Bessa
José Maria da Fonseca Ferreira
José Pereira de Sousa
José Ribeiro
Laurindo de Sousa Costa
Manuel Adriano da Silva Teixeira
Manuel Fernandes do Couto
Manuel Pereira Pinho
Pedro João Pinto de Babo
Saúl Luís Bessa Cramês








Os alunos que concluíram agora o 3º ano do Curso de Formação Electromecânica entregaram ao Senhor Director da Escola Industrial de Penafiel a petição que a seguir vamos transcrever na íntegra, para não lhe tirarmos o sabor e interesse demonstrados pelos jovens da nossa terra que com mágoa se vêem coagidos a abandonar os estudos, por falta de recursos da grande maioria, e porque a pretenderem continuá-los se vêem obrigados a deslocações onerosas.

Eis o texto da petição:

Ex.mo Senhor
Director da Escola Industrial de Penafiel

Os alunos abaixo assinados, que são a totalidade dos que contam concluir agora o 3ºano do Curso de Formação Electromecânica dessa Escola, pedem a V. Ex.ª licença para expor e solicitar o seguinte:

1º - São os signatários os primeiros finalistas e é com pesar que começam a sentir a ideia de abandonar o curso pelo qual V. Ex.ª, Senhor Director, tanto conseguiu interessá-los quer pela bondade e paciência com que os tem orientado, quer pelos cuidados que sempre teve com a sua preparação.

2º - Seria pois muito doloroso e afinal de bem pouco proveito, tanto para nós como para todas as actividades nacionais que pretendemos servir, que a preparação que desejamos obter tenha de ficar por aqui, em pura perda de tudo quanto os nossos professores e os nossos pais se esforçaram para que aprendêssemos.

3º - Lamentamos essa circunstância, tanto mais que estaríamos dispostos a prosseguir e a prepararmo-nos mais e melhor para a vida industrial e actividades correlativas, que em Portugal se encontram em franco desenvolvimento. Mas a verdade é que todos nós estamos ligados a uma situação económica familiar muito fraca e não podemos, infelizmente, ir mais longe, porque isso obrigaria a deslocarmo-nos para o Porto, para frequentar o S.P.I. durante dois anos, para depois podermos ingressar no Instituto Industrial com mais quatro anos, o que realmente já fica ao alcance de poucas bolsas.

4º - Para a hipótese de podermos frequentar o S.P.I. do Porto, sem sairmos de casa dos nossos pais, moradores nesta cidade e freguesias vizinhas, conhece V. Ex.ª as dificuldades que nos obrigam a pô-la de parte. É essencialmente a falta de meios de transporte entre Penafiel e Porto que assegurem, economicamente e a horas adequadas, a ida e o regresso. A distância a percorrer por estrada ou de comboio é de 35Km.De Penafiel à Estação temos ainda de contar com mais uns 4 a 6 Km servidos por meios de transporte diferentes. Finalmente, da Estação de S. Bento, no Porto, ao S.P.I. também não é perto e torna-se necessário utilizar um transporte urbano.

5º - Tudo isto somado representa em dinheiro um dispêndio avultado, além de representar também uma perda de tempo, que é diariamente superior a 2 horas, tempo que é roubado à boa preparação das nossas lições e ao desenvolvimento da nossa preparação e cultura pessoal.

6º - Deste modo, Senhor Director, uma única solução nos poderia aproveitar para que não se perdessem inteiramente os ensinamentos recebidos até aqui, que, se algum esforço nos custaram, muito representam também para a Escola, para a sua finalidade e para o Governo que a mantém e sustenta.

Esta solução, que bem se justificaria pela frequência que a Escola por si garante e lhe adviria também dos concelhos vizinhos, seria a criação do S.P.I. em Penafiel.

7º - Todos ficariam a lucrar, menos V. Ex.ª, bem o sabemos, mas dado o que isso representa para nós e para a difusão dos meios de educação postos mais ao alcance daqueles que a procuram, somos levados a pedir a V. Ex.ª, com todo o empenho, o seguinte:

Que V. Ex.ª já que tanto se tem sacrificado pela Escola e sempre tem sido incansável para satisfazer as suas necessidades essenciais e suprir muitas deficiências e dificuldades, resultantes de uma organização em começo de vida, mas principalmente do aumento imprevisto de alunos; V. Ex.ª já que sempre tem sido nosso amigo e orientador, dê, por favor, mais um passo, faça mais um sacrifício pela juventude que pretende estudar e trabalhar, pedindo com interesse a quem manda que seja imediatamente criado o S.P.I. na sua e também nossa Escola.

E ficamos convencidos que, em face das razões geográficas que o impõem e da subida atenção que V. Ex.ª vai tomar pelo caso, o Governo, em quem também desejamos habituar-nos a confiar, há-de ser justo e bom para connosco e com os nossos pais, vindo ao encontro do nossos desejo, que é por igual o de muitos e muitos mais, não só no concelho de Penafiel como nos seus vizinhos, o que, afinal, representa o interesse cada vez maior pelo ensino técnico e pela sua difusão pelo País, em que tanto nesta como em outras modalidades de ensino (que não sejam apenas as desportivas), dirigentes e dirigidos, devem estar igualmente interessados, acima de tudo, para o progresso e preparação do futuro da Nação e para bem da mesma.


Assinado pelos alunos



CRIAÇÃO DO S.P.I. NA ESCOLA INDUSTRIAL DE PENAFIEL
1968 / 1969

Acaba de ser criada, por despacho ministerial, a Secção Preparatória aos Institutos – S.P.I. – na nossa Escola Técnica.

Melhoramento de enorme interesse para Penafiel pois possibilita o prosseguimento dos estudos aos alunos que, revelando capacidade, podem ser encaminhados para a frequência dos Institutos sem necessidade de se deslocarem para o Porto.

Assim se alarga o Ensino Técnico em Penafiel o que se fica devendo ao Director da Escola Industrial que, arriscando-se às dificuldades inerentes à falta de instalações para nelas se realizar convenientemente o ensino, dificuldades essas que à Excelentíssima Câmara Municipal se tem apresentado materialmente insuperáveis, não hesitou em solicitar ao Senhor Ministro da Educação Nacional a criação da referida Secção.

O Senhor Doutor Aurélio Tavares não tomou esta atitude sem conhecimento das reais dificuldades e trabalhos que a Secção Preparatória aos Institutos implicaria à direcção da Escola, mas sim com nítido conhecimento da sua real necessidade para o ensino.

Ele compreende bem a situação dos pais dos alunos e sabe da falta que a Secção Preparatória pode trazer a muitos estudantes comprometendo a sua carreira e o seu futuro.

A sua atitude ao pedir o alargamento do ensino para a Escola de que é Director não pode ser tomada como simples satisfação de um dever imposto pelo lugar que ocupa, mas como resultante de um compromisso profissional em que a bondade do seu carácter, a dedicação ao ensino e a devoção de servir estão presentes no mais elevado grau.

Penafiel fica, pois, em dívida ao Dr. Aurélio Tavares por mais um grau de benefício que lhe prestou.



Do Ex.mo Snr. Director da Escola Industrial de Penafiel, recebemos com o pedido de publicação a seguinte notícia:

Escola Industrial de Penafiel
Secção Preparatória para os Institutos (S.P.I.)

Tem esta direcção o gratíssimo ensejo de anunciar publicamente que um despacho ministerial recente autorizou o funcionamento da S.P.I. na nossa Escola, a partir de 1 de Outubro próximo.

Não só a cidade como a vasta região circunvizinha compreenderão por ventura a amplitude dos novos horizontes que se abrem a muitos dos seus jovens, e o inestimável benefício que Penafiel recebe agora do Governo, graças a uma compreensão e ajuda inesquecíveis por parte das autoridades superiores do Ensino Técnico. Nunca será de mais encarecer e agradecer a prontidão amável com que obteve deferimento o pedido deste curso, renovado há pouco pelo signatário, na consciência de que interpretava uma aspiração geral.

Mais se informa que a matrícula para a nova S.P.I. já pode ser efectuada no mês próximo, dentro do prazo normal e nas condições habituais.

In “O Penafidelense” de 30 de Julho de 1968

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